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sexta-feira, 24 de março de 2023
Os Toques no Candomblé
“Como eu sempre tenho dito, o som é a primeira relação com o mundo, desde o
ventre materno. Abre canais de comunicação que facilitam o tratamento. Além de
atingir os movimentos mais primitivos, a música atua como elemento ordenador,
que organiza a pessoa internamente” O som é o condutor do Axé do Orixá, é o som
do couro e da madeira vibrando que trazem os Orixás, são sinfonias africanas sem
partitura. Os Atabaques, são os principais instrumentos da músicalidade do
Candomblé e Umbanda, cuja execução é da responsabilidade dos Ogãs ou
Batuqueiros. São de origem africana, usados em quase todos rituais, típicos da
cultua Afro. De uso tradicional na música ritual e religiosa, são utilizados
para convocar os Orixás. Falaremos do uso no Candomblé. O Atabaque maior tem o
nome de Rum, o segundo tem o nome de Rumpi e o menor tem o nome de Le.
Os atabaques no candomblé são objetos sagrados e renovam anualmente esse Axé.
São usados unicamente nas dependências do terreiro, não saem para a rua como os
que são usados nos Afoxés, estes são preparados exclusivamente para esse fim. As
membranas dos atabaques são feitas com os couros dos animais que são oferecidos
aos Orixás: independente da cerimónia que é feita para consagração dos mesmos
quando são comprados (o couro que veio da loja geralmente é descartado), só
depois de passar pelos rituais é que poderão ser usados no terreiro. Os
atabaques do candomblé só podem ser tocados pelo Alagbê (nação Ketu),
Xicarangoma (nações Angola e Congo) e Runtó (nação Jeje) que é o responsável
pelo Rum (o atabaque maior), e pelos Ogãs nos atabaques menores sob o seu
comando. É o Alagbê que começa o toque, e é através do seu desempenho no Rum que
o Orixá vai executar a sua coreografia de dança, sempre acompanhando o floreio
do Rum. O Rum é que comanda o Rumpi e o Le. O Agogô, tocado para marcar o
Candomblé, também de tradição Alaketo, chama-se Gan. As Varetas usadas para
tocar o Candomblé nos Atabaques, chamam-se Aguidavis. Também se utiliza ainda o
Xequerê.
Nomes dos Toques dos Orixás na Nação Ketu:
ADABI – Bater para nascer é
seu significado. Ritmo sincopado dedicado a Exú.
ADARRUM – Ritmo invocatório de todos os Orixás. Rápido, forte e contínuo marcado junto com o Agôgô.
Pode ser acompanhado de canto especialmente para Ogum.
AGUERE – Em Yorubá significa “lentidão”. Ritmo cadenciado para Oxóssi com andamento mais rápido para Iansã.
Quando executado para Iansã é chamado de “quebra-pratos”
ALUJÁ – Significa orifício ou perfuração. Toque rápido com características guerreiras. É dedicado a Xangô.
BRAVUM – Dedicado a Oxumaré .Ritmo marcado por golpes fortes do Run.
HUNTÓ ou RUNTÓ – Ritmo de origem Fon executado para Oxumaré. Pode ser executado
com cânticos para Obaluaiê e Xangô
IGBIN – Significa Caracol. Execução lenta com
batidas fortes. Descreve a viagem de um Ancião. É dedicada a Oxalufã. IJESA –
Ritmo cadenciado tocado só com as mãos. É dedicado a Oxum quando sua execução é
só instrumental. ILU – Termo da língua Yorubá que também significa atabaque ou
tambor BATA – Batá significa tambor para culto de Egun e Sangô . Ritmo
cadenciado especialmente para Xangô. Pode ser tocado para outros Orixás. Tocado
com as mãos. KORIN- EWE – Originário de Irawo, cidade onde é cultuado Ossain na
Nigéria. O seu significado é “Canção das Folhas”. OGUELE – Ritmo atribuído a
Obá. Executado com cânticos para Ewá. OPANIJE – Dedicado a Obaluaiê, Onile e
Xapanã. Andamento lento marcado por batidas fortes do Run. Significa “o que mata
e come” SATÓ – A sua execução lembra o ritmo Bata com um andamento mais rápido e
marcado pelas batidas do Run. Dedicado a Oxumaré ou Nanã. Significa a
manifestação de algo sagrado. TONIBOBÉ – Pedir e adorar com justiça é o seu
significado. Tocado para Xangô
domingo, 19 de março de 2023
Curimbeiro, atabaqueiro, Batuqueiro ou ogã?
Há uma confusão grande na Umbanda com o termo designado àqueles que são responsáveis pelos atabaques. Sabe-se que esses não são apenas tocadores de tambor, não são apenas pessoas que introduzem o ritmo, mas isso já foi postado em outro artigo, agora o assunto é sobre os termos, e mais a frente nesse mesmo artigo especificarei as funções de cada.
A Umbanda é rodeada de termos, justamente por causa de sua raiz, vinda de miscigenações entre
povos, pois deixo claro que entre povos e alguns de seus rituais, e não miscigenada apenas de rituais, muito menos de religiões. Na Umbanda encontramos diversas nomenclaturas, algumas vinda dos Bantos, outras de termos indígenas, outras de termos iorubás introduzidos após a chegada dos Nagôs no Brasil e outras que refletem o sincretismo religioso vindo dos brancos. Muitos desses termos utilizados na Umbanda foram adaptados para algumas funções que se assemelham as de origens, por exemplo, a palavra Ogã que é pertencente ao dialeto Iorubá e usada nos Candomblés de raiz Nagô/Iorubá; que na Umbanda se refere aos responsáveis pelos atabaques, e foi assim utilizada pela semelhança das funções, onde esta palavra também é utilizada pelos responsáveis dos atabaques nos rituais de Candomblé de Ketu e Nagô, porém, sabe-se que são funções extremamente diferentes, no Candomblé o ritual se foca a outras filosofias, e as preparações para tal função são totalmente diferenciadas; lembro que a utilização do termo “Ogã” surgiu primeiramente no Candomblé, e este termo foi incorporado na Umbanda como nomenclatura para os responsáveis dos atabaques, justamente pelas semelhanças.
Desta forma, muitos outros termos foram incorporados na Umbanda, muito disso aconteceu por conta de que, a população confundia Umbanda e Candomblé, ou então assimilava tudo numa única coisa, assim tais termos foram se adaptando a Umbanda e permanecendo.
É errado afirmar que um Umbandista é um Ogã? Burocraticamente sim, pois, este termo já tem sua designação correta e está no Candomblé de origem Nagô/Iorubá. Mas não é errado chamar o responsável pelos atabaques na Umbanda de Ogã, desde que, quem assim o faça saiba explicar o certo do errado, e os “porquês” desta tal nomenclatura incorporada na Umbanda. Do jeito que as nomenclaturas foram encaixadas na Umbanda, não faz com que este se torna errôneo, já que tais termos foram surgindo naturalmente, sem a intenção de plágio ou de desviá-los de suas origens, portanto, quando isso ocorre desta forma, acaba virando uma tradição, assim como as imagens dos Santos Católicos nos congás umbandistas, pois não há motivo para camuflagem, já que a inquisição ficou no passado, mas se mantém desta forma, porque se trata de uma tradição, isso faz parte da história dos povos, do Brasil e da própria Umbanda, da mesma forma acontece com os termos.
Na Umbanda, surgiu um termo próprio para tais responsáveis pelos atabaques, surgiu o título de “Atabaqueiro”ou"Batuqueiros". Estas não são uma forma errada de se nomear aquele que toca atabaque, mas vendo do ponto de vista que os responsáveis pelos atabaques não são apenas tocadores, este título já passa a ser errado. Vou dar um exemplo:
Tem um Dirigente Espiritual Auxiliar num Templo, ou seja, popularmente dizendo, Ele é o “Pai Pequeno” do Templo. Sabe tocar atabaques, chamo com firmeza um ponto cantado, mas esta não é a função na Umbanda, portanto, ele sim, pode ser chamado de “Atabaqueiro”ou"Batuqueiro" quando está em cima de um atabaque, pois, no momento é apenas um tocador de atabaque, não uma pessoa responsável pelos mesmos. Portanto, no meu ponto de vista particular, não me agrado com tal título aos responsáveis pelos atabaques, mas obviamente que não tenho nada contra, pois isso também não é o cúmulo!
Outro título que deram aos responsáveis pelos atabaques foi o de “Curimbeiro”, um título que soa bem, e que burocraticamente também não pode ser citado como errado.
A Curimba ou Corimba num terreiro de Umbanda são pessoas designadas às funções dos cantos no momento dos trabalhos. Ou seja, atabaques, pontos cantados e coro num todo.
Nos cultos de nações, quem canta é o curimbeiro e quem toca é o Ogã. Desta forma, burocraticamente falando, quando uma pessoa está apenas tocando ela é chamada de Ogã e quando está apenas cantando ela é chamada de curimbeira, em muitos terreiros antigos existia até mesmo uma separação, que era a chefe de curimba (responsável pela chamada dos pontos cantados e do coro) e o Ogã chefe (responsável pelos toques). Hoje dificilmente se encontra uma casa que faça isso, pois, a curimba está relacionada ao todo (atabaques e cantos) e os responsáveis pelos atabaques na Umbanda, são os que mais chamam os pontos cantados, portanto, por uma via lógica, o mais próximo do correto de titular o responsável pelos toques ou os responsáveis pelos atabaques na Umbanda, é titulá-lo como Curimbeiro, no qual procede também o chefe de curimba, que seria aquele que comanda e se responsabiliza por tal função no templo.
Independente de como você titula os responsáveis pelos atabaques em seu templo (Curimbeiro, Atabaqueiro, Batuqueiro ou Ogã), o importante é que saiba passar o ensinamento para os leigos, e que explique o porquê do título usado em seu terreiro.